O modelo Stock-to-Flow (SF ou S2F) é uma abordagem interessante para medir a escassez de recursos e sua relação com o valor de mercado. Embora seja comumente aplicado a recursos naturais, como o ouro, muitos argumentam que o modelo também pode ser válido para ativos digitais, como o Bitcoin. Neste artigo, exploraremos o conceito do modelo Stock-to-Flow, sua aplicação ao ouro e ao Bitcoin, bem como suas limitações.
O que é o modelo Stock-to-Flow?
O modelo Stock-to-Flow é uma forma de medir a abundância de um determinado recurso. Ele se baseia na relação entre o estoque total do recurso e a quantidade produzida anualmente, também conhecida como fluxo. Essa relação é obtida dividindo-se o estoque pelo fluxo.
Ao aplicar o modelo Stock-to-Flow, é possível analisar a oferta de um recurso em relação ao seu estoque total. Quanto maior a relação Stock-to-Flow, menor será a entrada de novos recursos no mercado em comparação com o estoque existente. Isso sugere que ativos com uma relação Stock-to-Flow mais alta tendem a reter seu valor a longo prazo.
Por outro lado, bens de consumo e commodities industriais geralmente possuem uma relação Stock-to-Flow mais baixa. Isso ocorre porque seu valor está principalmente ligado ao consumo e à demanda do mercado, e os estoques geralmente são suficientes para atender a essa demanda. Esses recursos não são necessariamente valorizados como reserva de valor, e seu preço tende a acompanhar a oferta e a demanda.
É importante notar que a escassez por si só não indica necessariamente que um recurso é valioso. Por exemplo, o ouro não é tão raro quanto se imagina, já que foram extraídas cerca de 190.000 toneladas até o momento. No entanto, a relação Stock-to-Flow sugere que o ouro é considerado valioso devido à sua produção anual relativamente pequena em comparação com o estoque existente.
A relação Stock-to-Flow do ouro
Historicamente, o ouro tem mantido a maior relação Stock-to-Flow entre os metais preciosos. A relação exata pode variar, mas considerando o fornecimento total de cerca de 190.000 toneladas e uma produção anual de 2.500-3.200 toneladas, obtemos uma relação Stock-to-Flow de aproximadamente 59. Isso significa que, com a taxa atual de produção, levaria cerca de 59 anos para extrair todo o ouro existente.
No entanto, é importante lembrar que a produção anual de ouro é uma estimativa e pode variar ao longo do tempo. Se aumentarmos a produção anual para 3.500 toneladas, por exemplo, a relação Stock-to-Flow cairia para aproximadamente 54.
Em termos de valor total, se considerarmos o preço atual de cerca de US$ 1.500 por onça-troy de ouro, o valor total de todo o ouro extraído chega a cerca de US$ 9 trilhões. Parece muito, mas se juntássemos todo o ouro em um cubo maciço, ele caberia em um único estádio de futebol.
O Modelo Stock-to-Flow e o Bitcoin
O modelo Stock-to-Flow tem sido aplicado ao Bitcoin, considerando suas características de escassez e oferta limitada. O Bitcoin é um recurso digital escasso, com um fornecimento máximo limitado a 21 milhões de moedas. Além disso, a emissão de novos Bitcoins é definida por um protocolo, o que torna o fluxo completamente previsível.
De acordo com os defensores do modelo Stock-to-Flow aplicado ao Bitcoin, essas características únicas tornam o ativo digital atrativo como reserva de valor a longo prazo. A relação entre o fornecimento atual em circulação, que é de aproximadamente 18 milhões de Bitcoins, e a emissão anual de cerca de 0,7 milhão de moedas resulta em uma relação Stock-to-Flow de aproximadamente 25.
Após o halving de maio de 2020, que reduziu pela metade a recompensa em Bitcoins para os mineradores, a relação Stock-to-Flow do Bitcoin aumentou para a casa dos 50. Isso significa que, de acordo com o modelo, o Bitcoin pode se tornar ainda mais escasso e valioso ao longo do tempo.
A relação Stock-to-Flow e o preço do Bitcoin
Os defensores do modelo Stock-to-Flow argumentam que existe uma relação estatisticamente significativa entre essa métrica e o valor de mercado do Bitcoin. Segundo o modelo, a redução contínua da relação Stock-to-Flow levará a um aumento significativo no preço do Bitcoin ao longo do tempo.
No entanto, é importante abordar as limitações e críticas ao modelo. Embora seja uma ferramenta interessante para medir a escassez, o modelo Stock-to-Flow não considera todos os aspectos relevantes para a avaliação do Bitcoin. Alguns críticos argumentam que a escassez por si só não é suficiente para atribuir valor a um ativo, e que o Bitcoin deve ter outras qualidades úteis além de sua oferta limitada.
Além disso, o Bitcoin é conhecido por sua volatilidade, com movimentos de preços significativos ao longo do tempo. Embora a volatilidade possa diminuir à medida que o mercado amadurece, o Bitcoin ainda está sujeito a eventos imprevisíveis que podem afetar seu preço. É importante considerar esses fatores ao avaliar a eficácia do modelo Stock-to-Flow no contexto do Bitcoin.
Conclusão
O modelo Stock-to-Flow é uma abordagem interessante para medir a escassez e sua relação com o valor de mercado de um recurso. Embora seja comumente aplicado a recursos naturais, seu uso no contexto do Bitcoin tem gerado debates e discussões.
O Bitcoin é considerado um ativo digital escasso, com características semelhantes a recursos como o ouro. A aplicação do modelo Stock-to-Flow ao Bitcoin sugere que o ativo pode reter seu valor a longo prazo devido à sua oferta limitada e previsível.
No entanto, é importante reconhecer as limitações do modelo e considerar outros fatores relevantes ao avaliar o valor do Bitcoin. A volatilidade e a influência de eventos imprevisíveis podem afetar o preço do Bitcoin, e é necessário uma análise abrangente para compreender completamente o valor desse ativo digital.
Em suma, o modelo Stock-to-Flow é uma ferramenta interessante para analisar a escassez de recursos e sua relação com o valor de mercado, mas sua aplicação ao Bitcoin requer uma análise cuidadosa e consideração de outros fatores relevantes.