A Tulipomania (Febre da Tulipa) é considerada por muitos como a primeira bolha financeira da história, o que supostamente ocorreu no início dos anos 1600. Antes de discutirmos se a Tulipomania foi realmente uma bolha financeira ou não, vamos mergulhar nas narrativas mais comuns que consideram este evento uma chance real.
A Bolha da Tulipomania
A Tulipomania aconteceu na Holanda, durante a Idade de Ouro holandesa. O país tinha a maior taxa de renda per capita do mundo naquela época, graças ao seu comércio exterior em expansão e ao extenso comércio internacional.
O boom econômico ajudou muitas pessoas a alcançar seu objetivo de riqueza e prosperidade, o que deu vida aos mercados de bens de luxo. Neste contexto, um dos itens mais desejados eram as tulipas, particularmente aquelas com mutações genéticas que as tornavam mais bonitas do que o normal. Estas flores únicas eram muito diferentes das outras opções disponíveis, então todos queriam exibi-las como um símbolo de status devido à sua rara beleza.
Dependendo da variedade, o preço das flores podia exceder os salários de alguns trabalhadores e em alguns casos até mesmo o preço de uma casa. Além disso, os mercados futuros aumentaram o preço, pois não era mais necessário ter as flores em mãos para negociar.
Entretanto, com cada vez mais agricultores cultivando flores, a oferta acabou se tornando muito alta e o mercado de tulipas atingiu seu auge em fevereiro de 1637. Houve uma súbita falta de compradores e após uma tentativa fracassada de leilão no Harlem, o medo e o pânico espalharam-se, fazendo com que a bolha rebentasse em poucos dias.
Os historiadores não têm certeza se as falências da época foram devidas à Tulipomania, pois é difícil obter registros financeiros deste período. Mas certamente houve perdas significativas para os investidores com contratos relacionados à Tulipomania. Mas o que isso tem a ver com o Bitcoin?
Tulipomania vs. Bitcoin
A Tulipomania foi considerada por muitos como um exemplo perfeito de bolha financeira e o que o estouro de uma pessoa pode causar. A narrativa popular descreve um momento de ganância e euforia que fez com que os preços subissem muito além do que era razoável.
Enquanto os mais experientes saíam cedo, estes últimos começaram a vender em pânico assim que a queda dos preços começou, causando grandes perdas de capital a vários investidores e prestadores de serviços envolvidos no mercado.
É muito comum ouvir que o Bitcoin e outras Criptomoedas estão seguindo um padrão semelhante. Entretanto, o mundo financeiro é muito diferente e com muito mais jogadores do que no século XVII, portanto, conectar a Tulipomania o Bitcoin não faz muito sentido. Além disso, as Criptomoedas e os mercados tradicionais são bastante distintos em muitos outros aspectos.
Principais Diferenças
Uma das maiores diferenças entre a Tulipa e a Bitcoin é o potencial para atuar como uma reserva de valor. A tulipa tinha uma vida útil limitada e era quase impossível dizer a variedade ou aparência exata que a flor teria apenas por olhar para sua semente. Os comerciantes teriam que plantá-la e esperar ter o tipo exato que desejavam, especialmente se tivessem pago por uma das raras cores.
Fora isso, se quisessem transferir as tulipas, precisavam de uma maneira de transportá-las com segurança até seu destino, com todos os custos associados. As tulipas também eram impróprias para pagamento porque não era possível dividi-las em pedaços menores, pois isso provavelmente as mataria.
Além disso, elas poderiam ser facilmente roubadas dos campos ou de uma prateleira no mercado, tornando-as mais difíceis de serem protegidas.
Em contraste, a Bitcoin é digital e pode ser transferida dentro de uma rede global peer-to-peer (P2P). É um tipo de dinheiro protegido digitalmente por provas criptografadas, o que a torna altamente resistente a fraude. O Bitcoin não pode ser copiado ou destruído e é facilmente dividido em várias unidades menores.
Além disso, é relativamente escasso, com um suprimento fixo limitado a um máximo de 21 milhões de unidades. É verdade que o mundo das Criptomoedas apresenta alguns riscos, mas ter precauções básicas de segurança provavelmente manterá seus fundos seguros.
A Tulipomania foi Realmente Uma Bolha
Em 2006, o economista Earl A. Thompson escreveu um artigo chamado “Tulipomania”: Fato ou Artefato?” onde ele discute como a Tulipomania estava diretamente relacionada com o governo — a conversão orquestrada de contratos futuros em contratos de opções — e não como uma euforia do mercado.
De acordo com Thompson, o episódio da Tulipomania não pode ser considerado uma bolha porque “as bolhas exigem a existência de preços mutuamente acordados que excedem os valores fundamentais”, o que não foi realmente o caso.
Em 2007, Anne Goldgar publicou um livro intitulado “Tulipomania”: Money, Honor, and Knowledge in the Dutch Golden Age”, no qual ela apresenta muitas evidências de que a história popular da Tulipomania está cheia de mitos.
Com base em extensas pesquisas de arquivo, os argumentos de Goldgar indicam que tanto a ascensão quanto a explosão da bolha da tulipomania foram muito menores do que a maioria de nós tende a acreditar. Ela afirma que as repercussões econômicas foram muito pequenas e que o número de pessoas envolvidas no mercado da tulipomania foi bastante limitado.
Conclusão
Independentemente da Tulipomania ter sido ou não uma bolha financeira, é irracional comparar flores com Bitcoin (ou qualquer outra moeda criptográfica). O evento ocorreu há quase 400 anos, em um contexto histórico completamente diferente, e as flores não podem ser comparadas a uma moeda digital garantida por criptografia avançada.